02/11/2010

A gente não sabemos escolher o presidente

. A gente não sabemos tomar conta da gente. A gente somos inútil.” Isso é Ultrage a Rigor criticando a política estagnada pela qual passava o Brasil na década de 1980. Entre Vandrés e Buarques, os anos 70 foram repletos de músicas de protesto, contra o establishment e a favor da abertura política e mental do ser humano. Já em 80, com a volta da democracia e a possibilidade de se produzir o que bem se quisesse, isso desapareceu. O legal no começo de 80 era ser punk e anarquista. Ao contrário do engajamento musical pelo qual havia passado a década anterior, os punks eram rebeldes sim e contra o capitalismo em geral. Eles romantizavam a pobreza e pregavam a não-necessidade do dinheiro – afinal, eles tinham repulsa por tudo o que o capitalismo representava. Um exemplo está na música “Papai Noel velho batuta”, dos Garotos Podres: “Papai Noel velho batuta, rejeita os miseráveis. Eu quero matá-lo, aquele porco capitalista. Presenteia os ricos e cospe nos pobres”. Com a decaída do movimento punk durante os anos 80, o surgimento de subdivisões foi inevitável. Apareceu, então, a famosa onda new wave – com ícones como B’52s, Devo e Talking Heads. Do lado mais pesado surge o hardcore e, num outro patamar e talvez, mais disseminada – inclusive no Brasil – a cold wave, como The Smiths, Joy Division, The Cure, Echo & the Bunnymen e New Order, louvados até hoje. A influência no Brasil foi geral. Capital Inicial, Legião Urbana, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso, Violeta de Outono, Finis Áfricae são alguns dos grupos surgidos a partir das bandas de rock inglesas. Quem não se lembra do estilo Morrisey (ex-vocalista do Smiths) de Renato Russo? Parece que a produção nos anos 90 foi muito fraca, ou qual seria outra explicação deste revival oitentista? Os discursos musicais, o modo bizarro de se vestir, a melancolia, a bagunça, a “rebeldia” sem embasamento. Quais dessas características têm a ver com a realidade juvenil do século 21? Talvez a melancolia do The Smiths seja de fácil identificação para qualquer jovem. Mas e o resto? Qual a apelação que Capital, Legião e outros têm nos dias de hoje? Bandas de rock que estavam quase desaparecidas, que haviam deixado seu legado para Charlie Browns, CPMs e outros rebeldes sem causas e sem idéias, de repente retornam com força total. Pode ser exatamente esse o problema. A produção dos anos 80, por maiores os problemas que tivesse, sustentava idéias comuns entre os jovens. Hoje não. Os grupos nascem e morrem em baldes e dificilmente cantam o pensamento juvenil. Pelo contrário, eles impõem à juventude – que, por falta de opção aceita – um modo vazio de ver o mundo. A MTV também tem uma parcela de envolvimento, com o programa Acústico, de onde sempre ressurge algum falecido. Pode ser pela falta de opção ou por um sentimento estranho de nostalgia, mas o revival oitentista está acontecendo. É pensar se de fato estamos cada vez produzindo menos e tendo referências demais, um eco do pós-modernismo.

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